segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

V. Xamanismo Africano

Imagem: Registro encontrado no "Google Imagens" de um ritual nativo africano com Iboga.

O Xamanismo mais difundido na atualidade é o Ameríndio, devido às nossas influências mais marcantes regionais, mas um Xamanismo bastante praticado, mas pouco relacionado como tal, é o Xamanismo Africano.

Podemos conceituar como Xamânicos os principais cultos à natureza, suas formas de comunhão com a mesma, sua sacralização e suas magias. Sendo assim, até mesmo os cultos egípcios podem ser considerados Xamânicos, pois tinham nos seus deuses de culto a função de regentes das forças da natureza e que se confundem à própria natureza em si (exemplos: Geb - Terra, Nut - Céu, Ísis - Natureza e em especial o Rio Nilo, Osíris - Vegetais, etc), especialmente Ísis, ou originalmente Aset, foi cultuada amplamente como a Grande Mãe da humanidade, a Mãe Natureza. Aos seus deuses confiavam a fertilidade da Terra e os destinos dos seres através de rituais frequentes. Hoje, no Brasil e provavelmente em outras partes do mundo também, ainda são cultuados em grupos considerados pagãos ou de Bruxaria.

O culto mais comum de origem africana na atualidade é o culto aos Orixás, que teve seu surgimento no Brasil durante o período da escravatura, e que trouxe junto com os negros africanos sua cultura e tradição. Sua popularidade fica marcada com o surgimento de duas religiões distintas: A Umbanda e o Candomblé, ambos são sistemas de culto aos Orixás e/ou Nkises (as divindades), mas principalmente a Umbanda surge como uma recriação do Xamanismo Africano com uma liturgia Universalista, que incluiu o Xamanismo Brasileiro, ou Caboclo, e também religiões como o recente Espiritismo (do francês Allan Kardec) e o próprio Catolicismo praticado no Brasil. Mostrando a que veio, como uma boa religião da Nova Era, unificando raças e credos e se fundamentando principalmente na caridade e no atendimento aos mais necessitados.

Existem formas diversas de culto aos Orixás, prova disto é a discrepância encontrada entre uma religião e outra e mesmo em vertentes de uma mesma religião, mas na realidade o que de fato muda é o sistema ritual aplicado, que se adequa a melhor compreensão de um ou de outro, assim tornando todas as formas válidas e legitimas quando praticadas para o bem e para benefício comum.

Os chamados Cultos de Nação africanos são então tipos de Xamanismo Ancestral ou Tradicional quando praticados preservando-se as tradições rituais da maneira como eram praticadas nas tribos da África, no entanto pode ser considerada também legítima a sua prática tendo por referência as religiões que dele se originaram, pela razão de que o Xamanismo enquanto fenômeno espiritual-religioso é livre de dogmas, e em solo brasileiro as referências mais acessíveis são estas, as brasileiras. Hoje também cultua-se os Orixás em grupos que se denominam Pagãos ou de Bruxaria. 

Na África, a quantidade de Orixás cultuados é imensa, lembrando que geralmente cada tribo cultuava apenas um ou mais que estivessem relacionados com sua ancestralidade familiar e/ou região. No Brasil cultua-se principalmente de 7 a 16 Orixás diferentes sincretizados na Umbanda com Santos Católicos (exemplo: Yemanjá – Nossa Senhora dos Navegantes, Ogum - São Jorge ou São Miguel, Oxóssi - São Sebastião). Havia ainda na África o culto separado a Egungun, que se tratava do culto aos espíritos ancestrais (ou dos mortos), o que pode ter influenciado também a presença de espíritos de velhos negros (Pretos Velhos) incorporados na Umbanda e no Candomblé, assim como a de outras linhas de espíritos-guias.

Vale lembrar ainda que a África, segundo estudos de historiadores e cientistas, é considerada como o “berço da humanidade”, ou seja, acredita-se que a vida humana no planeta Terra tenha tido seu início em solo africano, o que valida mais ainda o culto a suas divindades da natureza, independentemente do nome que possamos atribuir às mesmas. Nota-se grande semelhança ainda entre os cultos africanos aos Orixás e os cultos Hindús aos chamados “Devas”, ainda a sua teologia é semelhante, pois ambos consideram um Deus único que se manifesta a partir de suas divindades, portanto não são politeístas como se afirma erroneamente, mas têm por crença um tipo de monoteísmo que podemos chamar de Mono-panteísmo, ou seja, a crença em um Deus sobre vários deuses que se confundem com a própria natureza, a ideia de que tudo é Deus, mas que esse “tudo” não se confunde com este “Um”, que é soberano.


Plantas de Poder

Sabemos a princípio que a Cannabis possui origem árabe, mas também africana, e foi por meio do intercâmbio com os escravos no Brasil colonial que ela chegou até nós principalmente pela nação de Angola, segundo estudos, ficou conhecida por “Djamba”, ou “Cânhamo” no dialeto quimbundo, existe inclusive a especulação de que a palavra Maconha deriva de “Ma Konia”, ou “Mãe Divina”, também no mesmo dialeto. Diz-se ainda que era usada principalmente no culto a Egungun, e por isto associa-se a mesma ao orixá Oyá (ou Yansã, para a Umbanda), pois esta teria o domínio sobre os Eguns, também existe uma associação da mesma com o Orixá Exu por suas propriedades afrodisíacas tendo que Exu rege também o sexo, e possivelmente por Exu possuir certo domínio também sobre os Eguns, ou espíritos de mortos.

Foram encontrados também vestígios e evidências entre os Egípcios do uso da Cannabis, e de outras plantas enteogênicas ingeridas na forma de uma beberagem sagrada, tal como a Ayahuasca, mas não sei dizer se com o mesmo princípio ativo.

Apesar de não estar localizada no continente africano é impossível falar de Cannabis sem mencionar o culto Rastafari, que surgiu na Jamaica, os Rastafari fazem o uso ritual da Cannabis que pode ser considerada uma prática Xamânica de origem africana, mas estes possuem crenças Cristãs que se misturam a seu culto.

Existem também evidências do uso da planta Datura (conhecida popularmente como Trombeta, no Brasil) tanto em banhos, como a sua ingestão em cultos nativos africanos, e de Candomblé.

Por fim, vem se popularizando atualmente o uso da Iboga, uma raíz que ingerida ritualisticamente produz um estado de transe longo, geralmente diz-se que de 3 dias aproximadamente, ela vem sendo procurada pelas pessoas de fora do meio tribal e em países diversos por conta de sua eficácia na desintoxicação de dependentes químicos, infelizmente a substância é ainda proibida em diversos países como os EUA, no entanto já existem casos de cura registrados até mesmo em documentários. No Brasil a substância não é proibida, de acordo com a Anvisa, apenas não possui nenhuma regulamentação, diferente do caso da Ayahuasca que possui regulamentação apenas para utilização religiosa. Já existem clínicas em países como Brasil, Canadá e México especializadas no tratamento com Ibogaína para dependência química. Segundo a Anvisa, a importação, desde que seja para uso pessoal e amparada pela prescrição de um médico, é legalizada. Assim como o uso da raiz em infusão na água quente. A problemática do uso terapêutico já era prevista e imaginada, os tratamentos custam em torno de 7 a 9 mil reais no Brasil, impossibilitando o tratamento de pessoas mais necessitadas.


Leia mais sobre o Xamanismo:

I. Introdução Geral ao Xamanismo 

II. Xamanismo e Bruxaria
III. Sagrado Xamanismo
IV. Estilo de Vida Xamânico
Xamanismo: Perguntas Frequentes



Teve alguma dúvida? Em breve haverão mais textos explicando mais profundamente muitos dos conceitos aqui expressados, aguarde, comente sua dúvida (pois pode ser a de outros leitores), ou me envie um e-mail: vandanashakti@hotmail.com.

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