quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Stregheria ou Stregoneria, A Bruxaria Italiana

Imagem encontrada na internet supostamente representando Arádia, filha da Deusa
Diana, uma das figuras centrais do culto Strega pela vertente de Raven Grimassi.

Introdução Histórica


Muitos não conhecem estes nomes, mas a Stregheria/Stregoneria está muito presente no imaginário popular brasileiro, especialmente porque tivemos uma intensa imigração italiana no Brasil e muitos de nós são descendentes diretos ou indiretos de italianos, (já conheceu alguém que chamava a avó de “nonna”?) além de convivermos com essa cultura inserida aqui há anos, na pizza, na macarronada, no panetone, até fazemos parte de uma mesma família linguística, o latim.

Mas além da influência italiana em específico, temos a influência portuguesa devido aos nossos invasores (não me apetece usar o termo colonizador), não que ambos sejam iguais, mas entendam que a República Italiana é relativamente nova, e muitos povos diferentes viveram na região e nas proximidades, até mesmo celtas! Na arquitetura portuguesa, por exemplo, há muitas referências italianas, e podemos dizer que a Europa Medieval toda era bem parecida, basta pensar no tamanho da Europa e dos seus países e fazer um comparativo com o tamanho do Brasil e seus estados, há semelhanças nas culturas, tanto que há um mito, A Bruxa de Évora (existem livros sobre ele) onde se narra a história de uma sacerdotisa da Deusa Diana na cidade de Évora, Portugal. Até hoje existe um templo na cidade que supõe-se ter sido o Templo de Diana, claro que há posições contrárias afirmando que o templo era erigido à César, o imperador, mas há evidências como esse mito, e também a descoberta por arqueólogos de que o templo abrigava espelhos d’água, muito comum no culto a Diana Nemorensis.

Mais na região norte e nordeste do Brasil surgiu uma religião sincrética que misturava elementos de pajelança cabocla, cultos nativos africanos e magia europeia, é o chamado Catimbó, além dos elementos cristãos que também a influenciaram e muitas práticas comuns da magia popular europeia (também comuns à Stregheria), como o uso da arruda, do pentagrama, entre outros.

Muitas práticas de benzimento hoje conhecidas têm relação com o Catimbó, e é nelas que em grande parte encontramos os elementos Stregas, como a ideia de “mau-olhado”, uso de amuletos com pimenta, sal grosso, os encantamentos e até as maldições.


A Divisão entre Stregheria e Stregoneria

O autor Raven Grimassi que ficou conhecido por popularizar sua vertente da Stregheria defende a teoria de que ela seja um culto ancestral, ele restringe essa ligação ao povo etrusco, que diga-se de passagem foi apenas um dos povos que habitaram a península itálica, foram cerca de 5 povos diferentes por 40 mil anos, embora o povo etrusco seja autóctone (nativo da região) eles tiveram contato e possivelmente miscigenação com esses outros povos. Então Grimassi propaga o culto com a crença principal no casal divino Diana e Dianus (suposta referência do Deus e da Deusa Wiccanianos?) e na figura de Arádia, a filha “humana” do casal, que encarnou para ensinar a bruxaria para libertar o povo da opressão, ele coloca a tradição como uma ordem secreta que perdura desde o período neolítico, e o mesmo difere-o da Stregoneria, como se esta última desse nome às práticas de magia popular, falando a grosso modo, marginalizando-a.

Por outro lado existe uma antropóloga, Sabina Magliocco que refutou algumas de suas ideias sobre a Stregheria/Stregoneria, em especial essa divisão, colocando a vertente de Grimassi como um culto neo-pagão influenciado pela Wicca. Ela defende que a Bruxaria Italiana não é sistematizada e nem hierarquizada conforme o proposto pela vertente de Grimassi, ela define a Stregheria como magia vernacular, ou seja, regional e ligada ao folclore e crenças locais, mais sobre isso vocês podem ler num artigo do blog Stregheria Prática que vou deixar o link no final do texto como referência. Basicamente as palavras Stregheria e Stregoneria provavelmente têm a mesma origem etimológica e trata-se apenas de uma variação do termo.

Com certeza esta informação não invalida a totalidade da vertente propagada por Grimassi, mas nos traz um bom filtro da mesma, e acaba por romper com preconceitos, especialmente com relação ao Cristianismo, muito comum nas práticas populares.


Conclusões Pessoais

Sob esta ótica, a Stregheria está mais próxima de nós do que imaginamos, pensando nas nossas benzedeiras, no Catimbó, nas simpatias com santos católicos... É a magia do povo. Ainda assim eu acredito no culto antigo a Diana e Dianus, e também no mito de Arádia, mas como apenas uma PARTE da Stregheria. Como este sistema me surgiu por meio de Diana quando esta se apresentou em minha vida, eu realmente sinto que devo considera-los, mas não os vejo como “O Deus” e “A Deusa” como numa visão Wiccaniana, apenas como Deuses do Panteão Etrusco que tiveram influências de outras culturas e sistemas magísticos. E porque tive contato também com Arádia, e a ideia de uma “salvadora” feminina é muito sedutora para uma mulher que tem o foco de seu culto no Sagrado Feminino como eu, e que também procura trabalhar contra a opressão atual, então creio que Arádia teve seus motivos também para adentrar a minha vida, assim como todos os Deuses e entidades os têm.

Arádia pode ter sido uma pessoa extremamente excepcional (como Jesus é para os cristãos), ou talvez fosse apenas uma mulher e bruxa à frente do seu tempo, uma pessoa revolucionária (o que eu suponho para Jesus também), seu nome significa “a que brilha”, ou “a que irradia”, podendo ser mais um título sacerdotal do que um nome próprio, embora a maioria dos nomes próprios derivarem também de títulos qualitativos em línguas estrangeiras, o meu mesmo, Camila, é latino e significa “mensageira de Deus” ou “assistente cerimonial pagã” rs, além de ser o nome da filha de Métabo na mitologia romana, uma criança que fora consagrada à Deusa Diana devido a um fato milagroso. Então Arádia pode ter sido apenas uma sacerdotisa de Diana e Dianus, mas meu contato com ela ainda não foi o suficiente para compreendê-la como entidade ou Deusa, mas ela tem muita sabedoria e é uma mulher séria, justa e incisiva, o que ela é não importa tanto, se um espírito ou uma Divindade, mais importa a reverência e a fé que podemos dedicar a ela e criar uma relação de amizade e parceria em nossa vida e em nossas práticas mágicas.

Gente, STREGA É BRUXA, simples assim, praticar a Stregheria é praticar os sistemas de magia e bruxaria de origem italiana, seja ela popular, ancestral ou neo-pagã!

Referências:
http://stregheriapratica.blogspot.com.br/2010/06/bruxaria-italiana-diferentes-conceitos.html

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