Em um momento de birra, como criança espiritual que sou (ou era, até então) eu decidi desmontar todos os meus altares, revoltada, pois algumas coisas vinham dando errado em minha vida e eu não conseguia perceber os sinais que esta situação me trazia. Diante de tamanha ingratidão estavam minhas Deusas sendo encaixotadas entre lágrimas, eu não podia perceber a Sua sublime presença oculta manifesta em tudo ao meu redor, no ar que eu inspirava e me fazia acordada todos os dias, no meu alimento, na vida dos meus animais, em toda vida à minha volta, mesmo na cidade, essa vida que tenta entrar pelas fendas das calçadas, sufocada.
Assim estava a Divindade em mim, sufocada, tentando emergir por qualquer fenda, jorrando dos meus olhos e nariz em lágrimas, ou do ventre em sangue dolorido todo mês, tentando me dizer algo, e eu como aquelas pessoas que reclamam do matinho que nasce na calçada, como se aquilo fosse um incômodo. E no fim, aquilo que nos incomoda tem muito de nós mesmos, daquilo que tentamos negar, ocultar...
E minha Deusa emergiu assim em mim, da forma que pôde, com dores e tristezas que eu não podia compreender. E quase que inconscientemente eu fui retornando a Ela, de uma forma sutil ela me chamava a pintar, a cantar, a dançar e com sua arte ela me curava e depositava seu amor infinito sobre mim.
Muitas das coisas consideradas "materiais" que neguei numa suposta "troca" por iluminação começavam a voltar para mim, velhos desejos, sonhos, e pela primeira vez eu me permiti, estava tão cansada daquele conceito de espiritualidade pesada que a gente carrega como um fardo, como mártir, como se a intensidade da sua luz, da sua entrega, se contasse em números de renúncias.
Entrega, pela primeira vez estava mesmo me entregando, me entregando a mim, a viver o que eu quisesse, sem um prévio julgamento moral, e ali Ela começou a aparecer para mim mais uma vez, e outra, e nunca mais se foi, como na verdade nunca havia partido. Mais do que na vida, agora eu que podia percebê-la, vê-la na arte, no prazer, na alegria e na beleza, todas suas dádivas, todas manifestações dEla que tem toda a emoção, toda a sensibilidade, todo prazer, alegria e beleza.
Estátua da Deusa Afrodite, na Ilha de Chipre. |
Ela nos fez assim, como Deuses, capazes de manifestá-la em tudo, até mesmo na ira, mas mais do que aos outros animais nos presenteou com infinita emoção e capacidade de comover-se com a arte e o belo.
Perdi finalmente a minha "inocência" espiritual, aquela que me fazia achar que por fazer rituais e orações tudo sairia conforme eu desejava, sem compreender os desejos mais profundos da Alma, de minha Mãe que É em mim.
Eu não compreendia que esse era o momento de simplesmente ser quem eu era e parar de pedir por algo que não estava pronto, para o qual eu não estava pronta. Era hora de deixar os rituais e manifestar a Deusa em mim mesma, na realidade material, era hora de viver suas dádivas...
E foi assim que voltei aos braços fortes, mas doces da minha Grande Mãe, apenas sendo eu, e vivendo as dádivas do Universo perfeito que Ela criou: Prazer e Arte!
A DEUSA ESTÁ EM TUDO! Heya!