terça-feira, 15 de novembro de 2016

Análise de Filmes: Avatar

Há tempos eu queria escrever minhas observações sobre este filme, é polêmico, eu sei, e já deve ter milhares de resenhas na internet (cristãs, antropológicas, sociológicas, críticas cinematográficas, etc), que eu me reservei de ler, para não haver influência na minha interpretação. Esta é uma interpretação pessoal, espiritual e mística. Na realidade, após esta análise ser escrita, em pesquisa não localizei nenhuma análise espiritual que não fossem as críticas radicais cristãs ao suposto "Paganismo" difundido por meio do filme.

Imagem: Cena do filme durante Culto a Eywá na Árvore das Almas para fazer a "transferência" de corpos.

Título: Avatar
Ano: 2009
Direção: James Cameron
Gênero: Ficção Científica, Aventura
Nacionalidade: EUA

Sinopse: "Jake Sully (Sam Worthington) ficou paraplégico após um combate na Terra. Ele é selecionado para participar do programa Avatar em substituição ao seu irmão gêmeo, falecido. Jake viaja a Pandora, uma lua extraterrestre, onde encontra diversas e estranhas formas de vida. O local é também o lar dos Na'Vi, seres humanóides que, apesar de primitivos, possuem maior capacidade física que os humanos. Os Na'Vi têm três metros de altura, pele azulada e vivem em paz com a natureza de Pandora. Os humanos desejam explorar a lua, de forma a encontrar metais valiosos, o que faz com que os Na'Vi aperfeiçoem suas habilidades guerreiras. Como são incapazes de respirar o ar de Pandora, os humanos criam seres híbridos chamados de Avatar. Eles são controlados por seres humanos, através de uma tecnologia que permite que seus pensamentos sejam aplicados no corpo do Avatar. Desta forma Jake pode novamente voltar à ativa, com seu Avatar percorrendo as florestas de Pandora e liderando soldados. Até conhecer Neytiri (Zoe Saldana), uma feroz Na'Vi que conhece acidentalmente e que serve de tutora para sua ambientação na civilização alienígena."


Revi este filme ontem para poder escrever melhor, é importante mencionar que em outros momentos eu já tive experiências em expansão de consciência com Plantas de Poder nas quais tive a "visão" de cenas do filme e a sensação de que aquilo de alguma maneira era real, não apenas eu, outros amigos do caminho também já fizeram a mesma observação, inclusive meu marido. Sem falar que os cenários do filme em muito lembram das "mirações" que temos em estados alterados de consciência ao acessarmos os misteriosos encantos, reinos e dimensões das Plantas de Poder... cores, plantas, animais, pinturas e grafismos que remetem ao Transe Psicodélico.


Avatar

Avatar (Avatara), para início de conversa, é um termo sânscrito que significa uma manifestação física de uma Divindade, um ser imortal, ou seja a manifestação do próprio Deus. A palavra ao pé da letra significa "descida" e geralmente está associada ao Deus hindú Vishnu e suas encarnações terrestres, portanto, significa mais do que uma "imagem" ou representação, a princípio, mas seria o "Avatar" uma forma de afirmar de forma oculta a divinização do povo Na'Vi.


Pandora

Uma das primeiras coisas que observei foi o nome do planeta, que é foco central do filme, ser Pandora, como nunca estudei muito os pantões greco-romanos, dei uma breve pesquisada sobre essa Divindade e seu mito, e descobri um pouco mais do que geralmente é difundido, o mito principal coloca Pandora como a primeira mulher criada, e a história mais famosa é a da "caixa de Pandora", que conteria todos os males do mundo, entretanto, nas escrituras antigas percebe-se que não se trata de uma caixa e sim de uma ânfora ou jarro (símbolos do Sagrado Feminino, da Deusa e do Útero Primordial), e em verdade, não conteria os "males", mas a realidade do mundo dual que são as adversidades, vistas num período pré-patriarcal do mito, como as lições para evoluirmos, numa analogia ao mito de Adão e Eva, com o fruto do conhecimento, então Pandora na verdade possui em sua ânfora todo o conhecimento, o bem e o mal, aquilo que nos torna como os Deuses. Também encontrei a informação de que nos desenhos antigos Pandora é retratada saindo de dentro da Terra, uma representação comum para a Divindade Gaia, o que nos leva a pensar que na verdade Pandora seria mais do que uma divindade arquetípica, mas uma força da natureza também, relacionada à Gaia, talvez um de seus aspectos, como é Kore, sua face donzela.

O planeta Pandora do filme Avatar seria então, numa análise com o mito, algo muito semelhante ao que seria o planeta Terra, um lugar aonde existe a natureza dual, o bem e o mal, um planeta provavelmente físico, tridimensional para expiação e aprendizado (como ensinam os espíritas).


Eywa e as Supostas Associações: Ewá, Gaia, Terra

Minha segunda observação mais importante é a existência de uma divindade do panteão africano com o nome de Ewá ou Yewá (semelhante a Eywá do filme), segundo o que encontrei, a mesma rege principalmente a mata virgem, Ela está onde o homem não alcança (podemos supor, um outro planeta ainda não conhecido pelo ser humano?), esta também está ligada à vidência, fertilidade e rege as águas, em especial um rio que leva seu nome na África.

Existe uma mensagem canalizada, segundo o que dizem, pelos seres Felinos Extraterrestres na qual este filme foi citado implicitamente, eu li esta mensagem, não vou dizer que acredito totalmente na existência destes seres, mas me abstenho de colocar em dúvida qualquer tipo de manifestação, pois acredito que "há mais coisas entre o céu e a terra, do que sonha a nossa vã filosofia", como disse Shakespeare.


De alguma maneira acredito que este filme faz uma analogia direta com o nosso próprio planeta e a forma como foi colonizado, negando a sabedoria dos indígenas, que fica elucidada em frases como "toda energia é emprestada e deve ser devolvida", mostrando nitidamente a chamada Visão em Teia do Xamanismo, que entende que somos parte de um complexo vivo muito maior do que podemos compreender, somos parte da Natureza que nos abriga, num sentido científico temos então a Teoria de Gaia. Seguindo nessa ideia surge também a frase "veremos se sua insanidade pode ser curada" a ideia da falta de sanidade do homem urbano e sua loucura por ganância a ponto da auto-destruição porque não compreende sua ligação com tudo aquilo que ele destrói, isto reflete mais uma vez como foi a colonização dos nativos em quase todo o mundo, especialmente nas Américas, e vai além, mostrando o que ocorreria caso a situação do filme fosse real, a massa ainda segue pelo mesmo caminho destrutivo e insano, e os mesmos erros seriam provavelmente repetidos. "Eles são selvagens", dizem os militares e os empresários, assim como foi dito dos indígenas e dos negros.



A Árvore Sagrada

Eywá se manifestava também como "sementes da árvore sagrada, espíritos muito puros", que são aqueles serezinhos brancos-cintilantes e flutuantes, que se assemelhavam ao que os Na'Vi possuíam nos cabelos ao final de suas tranças (sagradas também principalmente entre os indígenas norte-americanos, consideradas extensões dos pensamentos e sua conexão com a Fonte), e que os animais possuíam em partes do seu corpo a fim de conectarem-se aos Na'vi, são muito semelhantes aos neurônios, acredito que ali poderia ter-se uma analogia a ideia Xamânica de que existem espíritos por toda a parte, representados como uma "centelha" de luz comum à todos os seres.

Ainda sobre os neurônios, sabe-se pela ciência de que as plantas realmente possuem mecanismos semelhantes de comunicação entre si, sem falar das semelhanças de formas nas raízes e galhos, a árvore representa em seu todo a unificação de tudo que existe em Pandora, esta ideia levantada no filme sobre a tecnologia que possuem é uma ideia ainda não totalmente desenvolvida na atualidade, mas que poderia sim vir a ser uma realidade, lembrando principalmente das Plantas de Poder e de como se dá sua comunicação com os humanos, como descobriram? Por experimentação? Acredito que não.

Quase todas as mitologias possuem como símbolo uma Árvore Sagrada, a Cabala, os Celtas, o próprio Cristianismo, o Budismo, etc. Importante lembrar do Budismo já que a "Árvore das Almas" (principal árvore de Eywa) se assemelha a uma Figueira, que foi o mesmo tipo de árvore ao qual Siddhartha Gautama, o primeiro Buda sentou-se ao seu pé e obteve então a Iluminação, Samadhi, ou Nirvana.


A Árvore, tem uma simbologia muito forte que representa também a família e a ancestralidade, na chamada "Árvore das Almas" era onde os Na'Vi faziam seus cultos e magias em conexão com os espíritos ancestrais. Ainda há na cultura Xamânica algumas árvores consideradas sagradas por suas características enteogênicas, como a Jurema nativa brasileira, entre outras.


Incorporação e o Eu Superior ou Essência Espiritual

Uma observação interessante que fiz também foi o quanto a experiência de "animação" do ser Avatar assemelha-se a uma incorporação, e também a identificação, ou afinidade de alguns personagens ao povo Na'Vi.

A ideia de dormir e acordar, acordar e dormir mostra a confusão entre o que é real e o que é ilusão, ficando claro ao longo do filme que a realidade em que estão vivendo seria a verdadeira ilusão, não num sentido real, mas no figurativo de estarem "alienados" à vida material contrastante com a liberdade dos Na'Vi, mas podemos ir além do figurativo e pensar na ideia de Eu Superior, ou Essência Espiritual, como se o espírito verdadeiro fosse o ser Avatar e a vida humana sim fosse a vida de um fantoche, inicialmente era o oposto, mas depois é como se isso se transformasse ao longo da identificação dos personagens com o povo e especialmente com sua Divindade Essencial.

A bióloga se sente tão perdida entre-mundos que por isso ela sempre fuma cigarro, como uma forma de reafirmar para si mesma a vida comum, ordinária. Já Jake é um homem comum, até mais comum do que os demais personagens com exceção de sua deficiência, mas o que ele tem de especial é que a sua imobilidade provavelmente lhe tolheu tanto de seus sonhos e objetivos que sua atitude em geral é de uma pessoa que não tem nada a perder, por isto ele é o personagem mais aberto à experiências, e mais corajoso, mas também acaba sendo inconsequente por não ter quase discernimento inicialmente entre o bem e o mal, como o arquétipo universal d'O Louco no Tarot, como uma pessoa no início da jornada espiritual, e com o tempo e sua vivência com os Na'Vi me parece que ele empreende um caminho que na verdade o conduz a busca de si mesmo, o autoconhecimento.

Quando as sementes da Árvore Sagrada demonstram uma conexão com Jake isto significa que ele tinha algo de especial em seu espírito, em sua essência, que eu entendi como uma ligação ancestral com aquele povo, como provavelmente o tinham outros personagens como a bióloga. E sua final transformação em um ser Na'Vi a mim representou a transcendência do espírito, e a morte para a vida ordinária, como se Na'Vi fosse sua verdadeira essência.


Conclusão

É muito difícil escrever sobre este filme de forma coesa por ser tão extenso e complexo ainda mais para quem não é um escritor profissional e se baseia em interpretações mais místicas do que analíticas, coisa difícil de transpor em palavras, quase sempre.

Fiz algumas outras observações sobre como o animal tinha suas pupilas dilatadas ao se conectar com o Na'Vi e fiz uma analogia com a expansão de consciência com Plantas Enteógenas que geralmente causam efeito semelhante nas pessoas, e entendi aquela conexão como algo profundamente místico-espiritual, como se a sensação fosse a semelhante à transfiguração em Animal de Poder, tradicional de quase todas (senão todas) as linhas de Xamanismo. A saudação "eu vejo você" que possui uma concepção semelhante ao do "Namastê", sem falar na meditação em frente à Arvore das Almas que muito se assemelha a uma meditação hindú em grupo, inclusive os cânticos possuem sonoridade parecida com as dos mantras.

O que sinto hoje sobre este filme é que ele nos alerta dos perigos do Capitalismo, principalmente, o que já nos levou e nos leva à ruína a cada segundo, e a verdadeira "tecnologia" que é a ciência da espiritualidade e os saberes místicos que viemos negando desde as colonizações, como numa tentativa de negar nossa própria ancestralidade, já que todas as civilizações já foram nativas.

Ele reproduz dramaticamente o que fizemos com nossos nativos e o que viríamos a fazer caso descobríssemos outro planeta com vida semelhante à Terra, abundante em minério, vegetação e fauna. Se este filme reflete uma história real eu não sei, talvez de um futuro distante se o ser humano não se conscientizar ecologicamente e espiritualmente e "curar sua insanidade", como dizem os Na'Vi. Fato é que o filme por mais que traga clichês como o de Pocahontas da Disney, possuí muitos ensinamentos Xamânicos-Espirituais, uns muito claros e uns ocultos, recomendo por isto assistir ao filme mais de uma vez, e prestar atenção até mesmo nos diálogos mais ocultos que às vezes aparecem em segundo plano.

Enfim, tem muito mais o que se dizer sobre este filme, a cada momento um novo insight, é realmente um objeto de estudo espiritual que indico a todos que estão em um caminho.



Teve alguma dúvida? Em breve haverão mais textos explicando mais profundamente muitos dos conceitos aqui expressados, aguarde, comente sua dúvida (pois pode ser a de outros leitores), ou me envie um e-mail: vandanashakti@hotmail.com.

7 comentários:

  1. Olá Vandana, você não está errada sobre vermos essas mandalas e seres em consciência expandida. Esse seu texto coincidiu com uma visão durante um trabalho com ayahuasca de dois filhos meus que vieram me visitar, eram muito semelhantes aos avatares do filme, só que mais selvagens, mais bonitos e com orelhas semelhantes aos felinos, tribo da qual faço parte, não tinham aquele nariz tão amassado, era mais uma tendência de narinas felinas mesmo. Era uma moça e um rapaz, nossa abraçamos. Ficaram felizes com a visita, e eu tb. Encantada com aquele momento. Quem fez o filme com certeza teve uma intervenção divina desses seres especiais. Não seria a toa tal semelhança. No mais, as pessoas só enxergam aquilo que querem ver, o que é diferente disso apenas faz com que cometam o erro mais comum que é julgar sem ponderar, sem respeitar.

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    1. Gratidão por partilhar sua experiência, irmã! :)

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    2. Vc leu esse artigo?
      O que acha dessa abordagem?

      https://metodista.br/faculdade-de-teologia/materiais-de-apoio/artigos/o-filme-avatar-como-vivencia-religiosa-e-as-implicacoes-para-a-teologia-pratica#:~:text=O%20filme%20Avatar%20como%20viv%C3%AAncia%20religiosa%20e%20as%20implica%C3%A7%C3%B5es%20para%20a%20teologia%20pr%C3%A1tica,-Artigos&text=N%C3%A3o%20imaginava%2C%20no%20entanto%2C%20a,no%20mundo%20dos%20na'vis.

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  2. Nossa! Estou de cara, muito obrigada Vandana pelas informações histórico geográficas, as referencias são incríveis, não tem como não sair daqui e ir pesquisar sobre o escritor.
    Aguardando ansiosa pelos próximos 4 filmes. rsrs

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  3. KRL... então rs, desculpa o termo chulo, resolvi escrever hj sobre um insight e depois de escrever o texto pensei q precisava de uma imagem q ilustrasse mais ou menos o que eu queria dizer, lembre do filme, fui no google escrevi avatar, achei a imagem aqui do seu blog gostei do nome dele, li um pouco e decidi ler o que estava escrito...
    O nome do meu espaço é Insanidade Controlada no Facebook, e essa parte do texto conectou exatamente com o meu fluxo... Seguindo nessa ideia surge também a frase "veremos se sua insanidade pode ser curada" a ideia da falta de sanidade do homem urbano e sua loucura por ganância a ponto da auto-destruição porque não compreende sua ligação com tudo aquilo que ele destrói, NAMASTê, parabéns pelo trabalho realizado.

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    1. Gratidão! Vou dar uma olhada lá! Espero ter ajudado! Namastê!

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