terça-feira, 17 de julho de 2018

Vida Espiritual x Vida Material, Estereótipos, Moda e Pressão Social: Algumas reflexões


Estou começando a mudar meu guarda-roupas, para algumas pessoas isso pode parecer fútil, mas isso é um resgate da minha identidade, meus adereços me diferenciam fisicamente de outros animais, é a minha capacidade de me emocionar com a beleza e de expressar meus sentimentos através da arte... Porque eu descobri que não gosto tanto assim de saião florido e nem de estampas coloridas de mandalas indianas como a maioria veste nos Círculos "espiritualistas" os quais eu frequentava, eu não gosto muito de cores suaves e desse ar de leveza, eu sempre fui uma mulher de personalidade forte e marcante, desde menina, sempre gostei de cores fortes e de coisas exóticas, mas a sociedade foi me podando e o ápice do meu "apagamento" foi quando entrei de cabeça nos círculos de espiritualismo "nova era", e das roupas "de trabalho" ou "ritualísticas" eu acabei fazendo as minhas roupas de sempre, porque afinal o "rolê" virou tomar Ayahuasca ou ir em Círculos de Mulheres do "Sagrado Feminino", eu não tinha mais vida social, as pessoas se reúnem por um dia ou dois de "paz, amor e gratidão" e retornam para suas vidas, e as amizades quase nunca duram.

Eu tinha necessidade de me sentir parte de algo, tentei fazer tudo "certinho", mas a minha personalidade sempre foi muito libertária e não consegui, tentei me encaixar em outros grupos, mas acho que nunca me encaixei em nada, e talvez o problema esteja muito mais em ser uma peça de jogo do que necessariamente não se encaixar em algo, talvez ninguém tenha que se encaixar em nada.

Como a maioria das mulheres eu tinha (leia-se "tenho") problemas de autoestima, por conta do machismo como sabemos, e eu só achava que a "espiritualidade" me curaria, me deixaria mais maleável para aceitar tudo o que eu não concordava... Pera aí! Eu tinha desistido de lutar pelo que eu acreditava, eu tinha desistido de mim... Quando comecei nesse caminho eu acreditava que se eu tomasse Ayahuasca eu seria menos ciumenta, eu seria mais autoconfiante e as pessoas (os rapazes, principalmente) gostariam mais de mim, ignorando totalmente que quase todos os meus relacionamentos anteriores foram abusivos ao menos em parte, e no quanto isso minou minha segurança, minha identidade e meu Poder. Isso foi algo que só percebi no recôndito da minha alma, sozinha, na minha casa, quando me recolhia na minha concha durante a TPM, com uma velinha acesa ao lado do meu vaso menstrual, sem Ayahuasca, sem dirigentes, sem mestres, só eu e meus sonhos nas noites de lua minguante, meus prantos no travesseiro, as dores no meu útero e meu corpo me contando a minha história, desde a infância, quando comecei a ser reprimida...

Com o tempo muitas coisas se esclareceram para mim, por vários motivos, mas o fato é que eu comecei a me olhar no espelho e perceber que o que eu chamava de "natural" na verdade era eu negando a minha humanidade, não era mais sobre se depilar ou não, usar maquiagem ou não, alisar e pintar o cabelo ou não, mas sobre eu nunca olhar para mim mesma, sobre a falta de ânimo que eu tinha em cuidar de mim, me agradar, sobre estar há uns 3 anos sem comprar nada que fosse realmente para mim, é sobre não se reconhecer mais!

O natural não precisa ser uma obsessão, o natural não é um fim a ser buscado até as últimas consequências, natural é apenas Ser, onde existe pressão não pode haver naturalidade, é apenas ilusão.

A gente se pressiona a vida inteira a ser de um determinado padrão, e depois a gente se pressiona a romper com TODOS os padrões, o problema está na pressão. E o que não se torna um padrão? Por alguma razão alguns de nós humanos temos gostos similares, uns mais populares e outros não, os mais popularem tendem a ser mais uma pressão estética (mas nem sempre), já eu sempre me atraí pelo considerado underground, mas até o mais alternativo estilo acaba se tornando um tipo de padrão, e tudo bem, ainda videmos num mundo onde aprendemos a sistematizar e organizar as coisas para melhor compreendê-las e estudá-las. O problema é quando você assume um padrão que não te representa só pra fazer parte de algo, só pra se sentir "alguém", um padrão que não casa com a sua personalidade, que não reflete seu Eu no espelho. Até os nativos estampavam em seus rostos quem eles eram, suas pinturas são a expressão da sua personalidade, seus talentos, seus feitos, sua posição naquela sociedade, assim como os seus adereços.

Venho procurando me vestir e me pintar de uma forma que eu veja novamente eu mesma no espelho, que eu me reencontre, que eu resgate a minha força para seguir meus sonhos mais infantis, quero continuar de onde parei, quero dar a mão para aquela menina do passado e dizer que tudo bem gostar de coisas exóticas, você é uma mulher incrível, obrigada por nunca morrer na minha lembrança.

2 comentários:

  1. querida tenho acompanhado seu blog e fico feliz que esteja encontrando seu caminho individual de reconexão. o coletivo tem muitas coisas interessantes, mas a real compreensão da nossa própria verdadeira identidade, nossos contornos reais, vem da diferença e da separação, quer achemos isso bom ou não. um abraço!

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