domingo, 29 de outubro de 2017

Reconstruindo a Diana Etrusca

Este é o resultado do meu estudo e pesquisa sobre a Deusa Diana, que a mim, na minha experiência pessoal, me pareceu muito mais amorosa e abrangente do que se propaga sobre a mesma.


Imagem: Luna, Karl Schweninger.

Bem sabemos que muitas das mitologias antigas de Deusas foram deturpadas e adaptadas ao patriarcado, uma delas foi a de Diana, a apropriação romana de um antigo culto de origem etrusca de uma Deusa Tríplice que se divide em Tana (Deusa do Universo ou Deusa Estrela), Fana (como Fauna, Deusa da Terra e dos Animais) e Jana (Deusa da Lua), ainda cultuada pela Stregheria, a Bruxaria Tradicional Italiana.

Os etruscos foram um povo de aldeões que viveram na antiga península itálica, estudiosos sugerem que estes teriam sido mesmo nativos daquelas terras e não imigrantes ou nômades, pois sua língua e cultura eram bem distintas e de difícil associação às de outras regiões, estes foram completamente dominados pelos Romanos aproximadamente em 270 a.C. Era uma sociedade que ainda valorizava o papel da mulher, dando a ela espaço nos banquetes, reuniões, jogos e espetáculos, e não retirando dela o seu nome ao casar, tudo isto obviamente era muito mal visto pelos bélicos e machistas romanos.

Antes de dar continuidade, exponho aqui o antigo mito do Dia de Tana, ou para os romanos, simplesmente o episódio do Banho de Diana:


"La Giornata di Tana" ou O Dia de Tana (O “Beltane” da Stregheria)
 
"Celebração do retorno da Deusa ao mundo. Celebração da vida e plenitude da fertilidade.

Imagem representando a Deusa da Natureza e o Deus de Chrifes em união.
Desconheço o autor.

 E aconteceu que Tana desejava a Luz do Mundo e, para Ela, muitos filhos, Ela viajou para o mundo e foi recebida em grande festa. Tana viu o esplendor do novo Deus enquanto Ele atravessava os céus, e Ela o desejava. Mas a cada noite, Ele voltava para o Reino Oculto e não podia ver a beleza da Deusa no céu noturno.

Então, uma manhã, a Deusa surgiu e banhou-se nua no lago sagrado de Nemi, quando Deus surgiu do Reino oculto. Então os Senhores das Quatro Direções apareceram para Ele e disseram: "Eis a doce beleza da Deusa da Terra". Ele olhou para Ela e foi atingido com a Sua beleza, então Ele desceu sobre a Terra sob a forma do grande cervo.

"Eu vim para observar o seu banho", disse Ele, mas Tana olhou para o cervo e disse: "Você não é um cervo, mas um Deus!" Ele respondeu: "Eu sou Kern, Deus da Floresta. No entanto, enquanto eu estou em cima do mundo eu toco também o céu e eu sou Lupercus, o Sol, que bane a Noite dos Lobos. Mas, além disso, sou Tanus, o primogênito de todos os Deuses ". 
 
Tana sorriu e saiu da água em toda a beleza dEla. "Eu sou Fana, Deusa da Floresta, ainda assim, enquanto estou diante de você, sou Diana, Deusa da Lua. Mas além de tudo isso eu sou Tana, nascida de todas as Deusas! "  
Tanus a pegou pela mão e juntos andaram nos prados e nas florestas, contando histórias de mistérios antigos. Eles se amavam e eram um, e juntos governavam o mundo. No entanto, mesmo em amor, Tana sabia que o Deus logo passaria para o Reino Oculto e a Morte viria ao Mundo, quando então ela deve descer e abraçar o Senhor das Trevas, e suportar o fruto de sua União."

(Tradução adaptada por Vandana Shakti)
Fonte: https://sonocarina.wordpress.com/tag/blog-entry-la-giornata-di-tana-tanas-day-may-1st/


Este que acabaram de ler é supostamente o mito original. O mito deturpado quando os romanos apropriaram-se do culto de Diana conta que um príncipe chamado Actéon viu Diana, a Caçadora a banhar-se nua em um lago junto de suas ninfas, ocasião em que todas tentaram escondê-la, representando vergonha diante da exposição da nudez, conta-se que esta transformou-o num cervo e que em seguida o mesmo foi devorado por cães (animais associados à Diana). Em verdade, Diana é Fana/Tana, e este encontro representa a união da Deusa da Terra com o Deus das Florestas representado aqui pelo mortal Actéon.


Imagem: O Banho de Diana, Noel Nicolas Coypel.

É importante mencionar que o culto romano à Diana também se fundiu ao culto da Deusa grega Ártemis, o que conferiu a Diana atributos quase que exclusivamente guerreiros, tais como a castidade, o isolamento e a ira, por isso o pudor com a exposição da nudez no episódio do banho. O lago em que Tana se banha no mito original é o lago Nemi, onde Diana fora cultuada também pelos romanos. E a última associação entre ambos os mitos é o fato de existir um aspecto do Deus etrusco com o nome de Actaeon (semelhante ao romano Actéon) como o Deus de Chifres da Floresta.

Fica clara então a transformação da Deusa Diana de uma etrusca cultuada por aldeões como uma divindade associada à natureza, à Lua e às estrelas, tendo uma celebração sazonal de fertilidade e união amorosa com o seu Divino Masculino, ou seja, uma Deusa complexa e multifacetada, como o é o Feminino, em uma Deusa solitária, casta, que se recusa o amor e que tem certo gosto pela violência, uma Deusa (re)criada por homens, obviamente.

É preciso neste momento de despertar do Sagrado Feminino buscar as origens, os verdadeiros mitos, afim de sanarmos as feridas deixadas pelo patriarcado que diminuiu até mesmo o Poder das nossas Deusas.


Referências:
O Livro de Ouro da Mitologia - Thomas Bulfinch
https://super.abril.com.br/historia/a-historia-dos-etruscos-a-cultura-que-roma-destruiu/
https://dezmilnomes.wordpress.com/2017/06/06/a-grande-senhora-tana/

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