sábado, 28 de outubro de 2017

Arquétipos x Divindades

Imagem ilustrativa. Representa o Deus Krishna revelando-se em sua forma complexa e transcendente para o guerreiro Arjuna, cena do épico indiano Bhagavad-Gita.

Atualmente com a popularidade evidente da Psicologia Junguiana e de terapias complementares integrativas, muito do que se encontra na internet e em livros sobre Deuses e Deusas os trata do ponto de vista arquetípico, o que não é de todo ruim, pois os arquétipos enquanto facetas de nossa própria psique e inconsciente coletivo da humanidade são sim importantes para a cura emocional e o equilíbrio psíquico do ser humano, tornando-o mais completo, no entanto para a vivência ritualística a "utilização" das Divindades como arquétipos é problemática.

O problema do arquétipo é que a sua utilização como forma de definição de uma Divindade acaba “encaixotando” as Divindades, sistematizando-as e dividindo-as por suas principais atribuições: ex.: Deusa do Amor, Deus da Guerra, Deus da Fertilidade, e assim por diante. Estas explicações funcionam muito bem sob o olhar da Psicologia e atendem às suas necessidades, no entanto sob o olhar espiritual as explicações são muito rasas, pois as Divindades são muito mais complexas e não poderiam ser tão sistematizadas, por isso acaba-se perdendo a sua profundidade. O arquétipo acaba reduzindo a Divindade a uma ou mais qualidades, e geralmente muito humanizadas.

Quando começamos a estudar uma nova Divindade em algum momento nos deparamos com materiais sobre os seus cultos mais antigos, que costumam trazer atribuições quase sempre mais amplas e por vezes até diferentes das mais difundidas e populares, isso pode até gerar alguma confusão, mas o fato é que os Deuses são de uma forma de existência transcendente e por mais que os humanos tenham a necessidade de compreendê-los sob seu próprio ponto de vista, esta compreensão é sempre muito relativa. A relação antiga do homem com a Divindade sempre foi mais intuitiva e passional, mas hoje somos excessivamente racionais e por isso perdemos muito sobre a verdadeira identidade dos nossos Deuses.

Um exemplo clássico de uma Divindade que foi reduzida pelo arquétipo é o da Deusa Afrodite, amplamente conhecida como a “Deusa do Amor” e abarrotada de pedidos de reconciliação, pedidos de romance, pedidos de beleza, de sedução, etc. Afrodite pode até mesmo responder a todos estes pedidos, pois no caso dEla, é uma Deusa benevolente, mas Ela possui muito mais atributos do que estes conhecidos, e é somente pelo estudo dedicado e pela vivência ritual que podemos conhecer a sua profundidade e oferecer um culto a Divindade.

Quando se faz um ritual utilizando apenas o que se sabe sobre o arquétipo isso pode ser bem mais problemático, a depender do objetivo do ritual e das forças que pretendem se trabalhar, porque quando chamamos por uma Divindade podemos muitas vezes lidar com seu aspecto total e precisamos estar preparados para tudo o que Ela tem a nos ofertar, por isso sempre estude muito a Divindade antes de comungar com a sua Magia e seu Poder.

Bem, para finalizar, meu objetivo com este texto é recomendar às pessoas que desejam oferecer culto, fazer rituais, ou mesmo apenas conhecer alguma Divindade que evitem tomar como verdades fontes que se restrinjam à Psicologia, uma vez que a ciência ainda limita muito do fenômeno espiritual, e busquem referências na própria literatura espiritual, mas mais vale aquela premissa de não julgar pelo que os outros dizem, mas ouvir o que a própria Divindade tem a dizer de si mesma, ou sentir/ver o que ela tem a mostrar sobre si, nada como um relacionamento pessoal com as Divindades!

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