quarta-feira, 5 de abril de 2017

II. O "Ritual" do Sagrado Feminino - Parte I

O que é esse tal “Círculo de Mulheres” que tanto falam? O que acontece? 

Imagem: Acervo pessoal. Círculo de Mulheres do Sagrado Feminino "Flores de Yurema", São Paulo, 2015.

Este é o primeiro de uma série de Artigos sobre o "Ritual" do Sagrado Feminino que você verá aqui!


A palavra ritual pressupõe uma série de ritos simbólicos que atuam no inconsciente das pessoas de forma profunda, espiritual. A maioria dos encontros hoje chamados de “Círculos de Mulheres” ou “Círculos do Sagrado Feminino” são organizados na forma de Rituais, uns mais simples, outros mais complexos, cada qual à sua tradição seguindo as afinidades e referências de sua (ou suas) facilitadora(s).

Primeiramente, vamos tentar colocar em exemplos simples o que pode ser caracterizado como ritual: acender velas, cânticos às divindades em grupo, danças circulares (no contexto ritual), meditações, orações, comunhão com medicinas ancestrais (Ayahuasca, Rapé, Cachimbo Sagrado, etc), entre outras práticas.


O Ritual na Prática - Guia para iniciantes


De forma geral todo ritual segue preceitos básicos de Magia para que tenha um bom aproveitamento do grupo que está participando e estes preceitos seguem mais ou menos um padrão, mesmo quando feitos sob influências de tradições religiosas-espirituais diferentes, estes preceitos são, basicamente e geralmente nesta ordem: 

- Limpeza energética do ambiente;
- Montagem de um altar ou algo equivalente;
- Limpeza energética das participantes; 
- Criação de um espaço-tempo sagrado (geralmente feita por meio de uma meditação coletiva ou minutos de silêncio a fim de nos desligarmos dos problemas do dia-a-dia para adentrarmos ao Sagrado);
- Apresentação do ritual com explicações sobre as práticas;
- Apresentação das participantes (opcional, mas altamente recomendável);
- Evocação das divindades, espíritos-guias e seres guardiões relativos à egrégora do Círculo e/ou do ritual em específico.

Após esta parte de abertura inicia-se o ritual em si, que pode ter das mais variadas práticas, mas é muito comum se acenderem velas, um caldeirão com fogo, ou mesmo uma fogueira, acenderem incensos para serem ofertados, realizarem-se cantos de mantras ou canções espirituais, fazerem alguma magia cerimonial (atos simbólicos para representar um objetivo mágico a ser atingido) e o mais comum de todos é que se realizem meditações, especialmente as guiadas.

Para o fechamento, geralmente apenas despede-se das divindades e seres evocados e em alguns casos realiza-se alguma prática simples de banimento (ou descarrego) para transmutar e eliminar quaisquer excedentes energéticos que possam ter ficado do trabalho espiritual. Feito isto é comum que se faça uma “roda da palavra” (o termo é da tradição Xamânica norte-americana, mas é amplamente utilizado nos círculos independente da tradição), é o momento aonde as pessoas relatam sobre sua experiência naquele dia e fazem seus agradecimentos. Também pode haver a prática de dança circular com cânticos no sentido de “fechar” o círculo, ou mesmo no sentido celebrativo. Ao final de tudo costuma-se fazer um lanche compartilhado com alimentos naturais e leves, que geralmente também ficam no altar durante os ritos para serem imantados com energias benéficas.


O Ritual na Teoria - O que é trabalhado?

Colocadas todas estas questões mais técnicas e práticas, que sempre podem sofrer variações a depender das referências espirituais da facilitadora/guardiã do círculo, agora falemos sobre a teoria, o que acontece nestes rituais?

A prática segue um roteiro magístico para que o ritual simplesmente aconteça, mas é no conteúdo de cada ritual em si que está a verdadeira magia. Cada ritual costuma possuir certo tema, ou finalidade a ser atingida, de maneira geral, todos os rituais de Círculos de Mulheres do Sagrado Feminino possuem uma finalidade comum de empoderamento da mulher e de “re-sacralização” do Feminino no inconsciente coletivo, no entanto alguns rituais possuem temas mais específicos, é muito comum, por exemplo, que sigam a Roda do Ano, pela tradição Celta, ou por outras tradições Xamânicas, pelo motivo de que a Roda do Ano é na verdade uma forma de ritualizar a própria vida do ser humano em harmonia com os ciclos da natureza ao longo de um ano completo, ou seja, todas as tradições nativas de uma forma ou de outra celebravam e ritualizavam as passagens da natureza (estações do ano, solstícios, equinócios) de forma que estas representam em escala maior fases da nossa própria vida (nascimento, maturidade, morte, em termos simples), então isto é largamente utilizado há tempos por magistas também a fim de aproveitarem as energias telúricas e também do Universo para atingirem seus propósitos, por exemplo, para um ritual de descarga ou limpeza o ideal seria fazê-lo em um momento em que a natureza está em decomposição, estação do Outono.

Mas a Roda do Ano não representa toda a teoria na qual se baseiam os Círculos, nem de longe, tendo em vista que a Roda do Ano é a volta da Terra ao redor do Sol (astro tido como masculino), temos também como referência fortíssima a influência da Lua (astro tido como feminino), então há rituais que se utilizam também (ou somente) das fases lunares, especialmente relacionadas à faces da Deusa para aqueles que cultuam as divindades arquetípicas (exemplos: Lua Nova - Jovem, Lua Cheia - Mãe, Lua Minguante - Anciã, mas existem ainda muitas outras subdivisões para além desta chamada de “tríplice”). 

Existem também pessoas que escolhem seus temas de forma intuitiva ou aleatória, não existe certo ou errado, mas eu, particularmente, considero prudente e mais eficaz levar-se em consideração pelo menos a fase da Lua, haja vista que ela nos influencia muito enquanto mulheres, até mesmo nossos ciclos reprodutivos e humor. E são dentro desses temas que as magias e curas acontecem, que podem ser dos mais variados possíveis, abrangendo: sexualidade, criança interior, relacionamentos conjugais, relações familiares, maternidade e até mesmo dons e talentos profissionais podem ser trabalhados, mas todos acabam trabalhando na cura do Feminino em algum ponto.


No próximo texto falaremos sobre os locais onde acontecem os Rituais e quem pode ou não participar. E mais adiante sobre os motivos de os Rituais serem obrigatoriamente gratuitos, quem pode conduzir estes rituais, e por fim sobre o Sacerdócio no caminho da Deusa. Acompanhe!

Clique para ler a parte II deste artigo

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