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quarta-feira, 30 de agosto de 2017

III. O que NÃO É “Sagrado” Feminino? - Os Círculos de Mulheres Terapêuticos

Antes de continuar com os artigos da série sobre os rituais, acabou parecendo bem mais urgente nesse momento explicar o que NÃO É de fato Sagrado Feminino, no seu sentido mais estrito, pois TUDO é Sagrado. Muitas pessoas têm vindo me perguntar e pedir explicações maiores acerca da minha posição contra as cobranças dentro dos Círculos Sagrados, até mesmo algumas pessoas chegam a pensar que eu acho que Terapia tem que ser de graça, hehe. Não, gente. Isso prova que equivocadamente as pessoas estão em sua maioria simplesmente achando que Sagrado Feminino É Terapia Holística. Mas não é...



Pessoal, o que vêm ocorrendo é uma confusão do que é e do que não é tal coisa, com todo o respeito, se alguém está realizando uma atividade PAGA divulgada como sendo do Sagrado Feminino, das duas uma: Ou essa pessoa não teve o devido esclarecimento do que é o “Sagrado” Feminino, ou essa pessoa não teve o devido esclarecimento do que é a Terapia Holística.

Nos textos anteriores nós explicamos os Círculos de Mulheres “Sagrados”, ou Ritualísticos, que podemos colocá-los então como sendo o “culto ao Sagrado Feminino”, por fim. Agora procuro esclarecer neste artigo como funcionam os Círculos de Mulheres TERAPÊUTICOS, que são aqueles eventos aonde se oferece alguma prática de Terapia, a mais comum delas é a Terapia em grupo sob a fundamentação da psicologia junguiana que faz uma releitura dos arquétipos das deusas como partes da psique feminina, o que credita a esta prática o status de terapia e não de ritual. Outras práticas terapêuticas podem ocorrer, como massagens, etc.

A linha que separa a terapia holística da espiritualidade é tênue, pois a espiritualidade também vê o ser de forma integrativa (holística) e por isto pode atuar de forma também terapêutica na cura do ser por meio da fé, no entanto isto não lhe dá o status de terapia no sentido médico-científico, então para atuar com a Terapia Holística é necessário possuir seu conhecimento, sua fundamentação necessária, ser um Terapeuta e não apenas um Espiritualista, embora possa-se ser ambos. No caso da Fitoterapia, por exemplo, sua aplicação sem base científica pode cair no crime de Curandeirismo, que consta no Código Penal brasileiro atual, especialmente quando não se tem o devido cuidado de orientar o paciente que não abandone os seus tratamentos na medicina tradicional. 


Espiritualidade é holística, mas não é Terapia no sentido médico-científico regulamentado.



A utilização da Ayahuasca (Daime), por exemplo, tem seu uso regulamentado apenas para utilização religiosa-espiritual, e NÃO POSSUI BASE CIENTÍFICA PARA USO TERAPÊUTICO, apesar de ser Terapêutica e Holística por meio da fé e da religiosidade, mas a regulamentação legal veda seu uso enquanto uma Terapia Holística, portanto esta utilização é considerada ilegal, sem base científica e pode além de cair no crime de Curandeirismo, também caracterizar exercício ilegal da profissão de Terapeuta. Ou seja, servir Ayahuasca não faz de você um terapeuta, servir Ayahuasca não é profissão, não tem base legal para um e nem outro, portanto acabam aqui as escusas para o comércio ilegal da mesma.

Com o exemplo acima, um dos mais comuns da atualidade, podemos compreender essa linha tênue entre Terapia e Espiritualidade, que deve ser observada sempre com bom senso, e é por este motivo também que as Terapias Holísticas deveriam ter sempre valores mais acessíveis e flexíveis, pois muito embora possuam certa base científica, a maioria delas possui conexões com práticas consideradas espirituais, e quando você faz Terapia em um formato de círculo, a própria visão de mundo evocada, circular e não-linear, tem por pressuposto a igualdade, o acolhimento, e não a hierarquia patriarcal que pressupõe rigidez e autoritarismo.

Com relação aos cursos, eu recomendo a todos que querem aprender Terapia Holística que façam cursos livres, a maioria deles possui um bom investimento-benefício, mas que também não se limitem às “cadeirinhas”, pois existe muita coisa a ser estudada empiricamente, autodidata, etc. Mas por amor, não inventem de fazer Círculo de Mulheres Terapêutico porque você leu um livro sobre Psicologia Junguiana (Mulheres Que Correm Com Lobos, por exemplo) e acha que pode fazer para ganhar dinheiro, respeitem o trabalho dos Terapeutas!

Uma nota de rodapé sobre cursos: O capitalismo no ensino é tão forte que as pessoas perderam o direito de serem o que são, um exemplo disso é que antigamente só existiam faculdades de cursos mais tradicionais, se não me engano começaram com Direito e Medicina, então você era artista sem ter feito um curso de Artes, por exemplo, até Freud que foi considerado o “pai da psicanálise”, o era desde antes de a Psicologia existir como curso universitário, FREUD NÃO ERA PSICÓLOGO (era médico neurologista, agora se um médico neurologista quiser ser psicólogo ele vai ter de “voltar para as cadeirinhas” da Universidade e estudar mais 5 anos, salvo as comuns eliminações de matérias), aí de repente houve um “boom” de cursos, surgiram as faculdades particulares, e hoje pra você ser qualquer coisa você precisa pagar e entrar dentro da "caixinha" do sistema como ela te concebe dentro daquela área, e com a popularidade das religiões e cultos modernos, especialmente o Sagrado Feminino (por conta do Feminismo em alta) a gente tá sendo jogada pro mesmo sistema.
Nós que somos Terapeutas por formações nos chamados cursos livres já temos nossa dificuldade de aceitação por parte da sociedade por não termos muitas vezes uma graduação “tradicional”, aí alguém pensa a brilhante ideia de criar um curso universitário abarcando diversas Terapias Holísticas (sim, as mesmas que podemos fazer quantas e quais quisermos em cursos livres), a tal graduação em Naturopatia reconhecida pelo MEC, vocês realmente acham que fizeram isso pensando na gente? Isso é mais um meio de nos forçar a dar muito dinheiro para as mesmas instituições que regulam e ministram os cursos universitários tradicionais dos quais nós “fugimos”, mais uma forma de nos tolher a liberdade de sermos o que somos pelo preço de um título, de um papel. Pensem nisso. E se você é um paciente de Terapia Holística e de alguma maneira discrimina um Terapeuta não graduado ou opta por um profissional apenas porque ele tem a graduação, pense nisso também, pois você está fortalecendo um sistema capitalista, mercenário e opressor de pessoas.


Leia mais artigos da série sobre o Sagrado Feminino:

I. O Culto ao Sagrado Feminino
II. O "Ritual" do Sagrado Feminino - Parte I
II. O "Ritual" do Sagrado Feminino - Parte II

*Em breve a parte III sobre O Sacerdócio no Sagrado Feminino.

sexta-feira, 21 de abril de 2017

II. O "Ritual" do Sagrado Feminino - Parte III

Vamos continuar nossos estudos sobre os Rituais dos Círculos de Mulheres?

Hoje falaremos sobre a questão da gratuidade e da capacitação para a condução de um Círculo.


Por que tem que ser gratuito?

Voltando ao início do texto, lembremos do que é um ritual, ou seja, uma cerimônia mágico-religiosa, isto por si só basicamente explica o motivo dos rituais serem gratuitos. É claro que dentro de um coven, ou círculo fechado, os membros fixos podem trabalhar cooperativamente para manterem o trabalho juntos, já que todas possuem uma responsabilidade compartilhada pelos trabalhos. Mas, por outro lado, uma pessoa que sozinha assume a responsabilidade de conduzir um trabalho espiritual (seja ele qual for) possui a responsabilidade como que de uma sacerdotisa (isto quando não é de fato uma sacerdotisa), não é porque saímos dos conceitos patriarcais de hierarquia linear que o sacerdócio perde seu sentido, ele ainda deve existir, mas de maneira mais flexível acompanhando a fluidez do que é o Feminino enquanto uma energia primordial que permeia a tudo no Universo.

Muitas de vocês irão encontrar círculos de mulheres pagos, e também cursos que prometem a capacitação ou formação para “Sacerdotisas” ou “Facilitadoras de Círculos”.

Sobre isto, inicialmente devo dizer taxativamente que NEM TODO CÍRCULO DE MULHERES É UM CÍRCULO “SAGRADO”, não levem a mal, é a realidade. Existem Círculos de Mulheres que atuam sim na cura das mulheres, mas de forma profissional e TERAPÊUTICA, ou seja, eles trabalham o Feminino de forma não religiosa e não estritamente espiritual, a exemplo temos muitos círculos trabalhando os arquétipos das deusas dentro da psicologia junguiana, como antes já dito aqui em outros textos, está errado? Não, de maneira alguma, errado é vender o ritual, errado é vender o “Sagrado”, Terapia é profissão e deve ser remunerada e valorizada.


Quem pode fazer? - Cursos de Formação

Agora quanto aos cursos de formação que prometem iniciações e capacitações, repito o que tenho dito nos círculos e em grupos quando esta questão é frequentemente levantada. A nossa sociedade como um todo precisa desconstruir a ideia de que você só pode se capacitar para algo em um curso que te dê um diploma ou uma instituição que te diga que você é o que você é. Isso sempre afetou as áreas profissionais (especialmente as mais tradicionais) e agora, por conta do capitalismo, afeta até nossa espiritualidade, porque muitos cursos se tornaram um meio de comércio, a questão é: você não “precisa” de um curso para se tornar uma sacerdotisa, uma facilitadora de círculos, etc, mas se você quiser existem cursos que podem ajudar na parte de estudos e vivências, no entanto, esses cursos não dão a ninguém o “real” título espiritual disso ou daquilo, até porque cada pessoa possui um aproveitamento diferente, duas pessoas podem fazer o mesmíssimo curso e uma pode ter um lindo despertar e outra pode ter simplesmente aproveitado somente o conteúdo, porque o despertar, o florescer espiritual não tem prazo, não tem método, não tem receita de bolo, é particular de cada um desde que o mundo é mundo, basta apenas que as pessoas se abram e realmente desconstruam essa ideia de que "eu sou menos capaz porque não sou formada no curso lá da “gringa” que diz que você é tal coisa ou não".

Antigamente existiam as escolas iniciáticas das mais diversas tradições místicas e espirituais, mas tudo era completamente diferente, era um outro tempo, uma pessoa nascia e desde criança era mandada a um templo aprender com mestres e mestras que dedicavam toda a sua vida a isto, muitos eram celibatários, renunciantes, e ali sim você poderia dizer que havia uma ordem e no fim a pessoa receberia uma “iniciação” verdadeira, mas hoje isso é cada vez mais raro, primeiramente porque ninguém quer renunciar a nada, e segundo porque TODOS querem algo em troca, ninguém quer mais a responsabilidade de um verdadeiro sacerdócio, de receber pessoas, cuidar, orientar, ensinar e viver integralmente o ofício. Então se perdeu o conceito de iniciação na era moderna, isso ao meu ver, não que não exista, eu até acho que exista, mas é bem raro de ser encontrado.

Eu gostaria de dizer também, complementando tudo o que já foi dito sobre os cursos, que considero justo um valor simbólico colaborativo pela transmissão de saberes (simbólico colaborativo de 1000 reais não vale), porque estamos longe daquele ideal do Sacerdócio do passado, apesar de que se a transmissão for por meio de um Sacerdócio eu acredito que deve ser gratuito sim e apenas com contribuição/doação consciente por parte da pessoa interessada SE ela quiser e puder, mas quando falamos de ensinar algo que foi estudado, organizado e que despendeu o tempo de uma pessoa que não é um Sacerdote e leva uma vida comum, mas que gosta de se dedicar a espiritualidade eu não vejo mal nenhum em propor esta “troca”, desde que não se torne um comércio capitalista (visando lucro), mas sim feito por prazer, de alguém que compreende que este é um saber espiritual, e desde que não haja o monopólio do saber, ou seja, você pode fazer um curso de benzimento e pagar por ele, mas isso não desmerece e nem “incapacita” aquelas que aprendem de forma espontânea, autodidata e especialmente aquelas que aprendem por tradição familiar. Um dos absurdos que mais vemos é uma pessoa usar de um título que é vendido por meio de um curso “iniciatório” para dizer que ela é a única capacitada a exercer tal prática (ex.: Benção do Útero, ou Womb Blessing com o título de Moon Mother, Goddess Blessing ou Benção da Deusa com o título de Blesser), pensem bem, usar o nome “Benção do Útero”, “Benção da Deusa” ou qualquer tipo de benzimento de forma exclusivista não seria uma apropriação indevida de saberes ancestrais, que são patrimônios imateriais e universais da humanidade? Isso é nosso, é visceral, não pertence a ninguém que tente se apropriar.

Então, por fim, concluo que o sacerdócio dentro do Caminho da Deusa, ou do Sagrado Feminino é algo bem mais simples do que se espera, até por a mulher ser naturalmente intuitiva, mas quero deixar para aprofundar neste assunto em um texto mais específico, o que podemos dizer de forma geral é que todas podem conduzir círculos, todas as que sentirem O Chamado da Deusa, e daí o seu sacerdócio pode ser dentro de um coven, de uma ordem iniciática ou não, ele também pode ser solitário, intuitivo e espontâneo, cada ser é um Universo e cada caminho, único. Ahá!

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